O coração do swing
De Harry Vardon a Sam Snead, de Ben Hogan a Tiger Woods, todos afirmam que o bom golfe só é possível com um bom grip, e o segredo é o delicado equilíbrio entre firmeza e sensibilidade
A importância capital do grip nunca foi colocada em dúvida pelos grandes jogadores. Todos eles afirmam que a boa empunhadura é a alma do bom swing. “O fator primordial no swing de golfe é o grip. Faça isso corretamente e todos os outros progressos virão na seqüência”, disse Tommy Armour, um jogador praticamente desconhecido das novas gerações, mas que já teve seus momentos de glória nos anos 1930. E há também a afirmação mais famosa do início do livro Five Lessons, de Ben Hogan: “Um bom golfe começa com um bom grip”. E muitos profissionais vão além: “Um bom grip é mais importante do que um bom swing. Com um swing deficiente e um bom grip, você ainda poderá jogar um golfe razoável. Porém, com um bom swing e um grip ruim você não chegará a lugar nenhum”, afirma John Valliere, do Glynns Creek Golf Couse, em Iowa.
A pegada suave
Porém, não restando dúvida sobre a importância de um bom grip, surge a dúvida maior do que vem a ser esse tal de “bom grip”. A primeira e mais importante característica da boa pegada é a ausência de pressão excessiva. Ou seja, deve-se segurar o taco com relativa firmeza , sem no entanto “espremê-lo”, e sem confundir firmeza com rigidez. Há uma comparação bem conhecida, provavelmente criada por Sam Snead, que afirma ser necessário segurar o taco como se ele fosse um pássaro: com força suficiente para ele não escapar, mas não com força excessiva a ponto de ele não poder respirar. Outros instrutores preferem orientar os alunos por meio de gradações. “Imagine que 10 seja a pressão máxima que você consegue segurar o taco, e 1 seja a pressão mínima. Pois bem, você deve segurar com 5 de pressão”, diz David Leadbetter.
É essa pegada suave que possibilita algumas cenas inusitadas de tacos voando das mãos dos melhores jogadores do mundo nos torneios da PGA, como já ocorreu até com Tiger Woods. Os golfistas de handicap alto raramente correm esse risco, justamente por apertarem demais o grip, anulando qualquer possibilidade de fluência.
A flexibilidade do pulso
Mas a suavidade precisa vir acompanhada da flexibilidade. “Para ganhar velocidade e distância, é preciso ter uma boa flexibilidade nos pulsos. Deve haver um ângulo de 90 graus entre a vara e o seu antebraço esquerdo no topo do swing, e seus pulsos devem descer em direção à bola de modo relaxado e flexível”, ensina Butch Harmon. Essa flexibilidade é o que os instrutores chamam popularmente de “quebrar os pulsos”. Essa “quebrada” permite a passagem da mão direita sobre a esquerda imediatamente após o impacto na bola, resultando num finish equilibrado.
Uma boa forma de entender esse dobradinha suavidade/flexibilidade é reparar nos movimentos de mãos de Vijay Singh. Aprecie sua batida com o driver em slow motion. Fica nítida a suavidade de seu grip quando, após bater na bola, vemos os dedos da mão direita praticamente descolados do taco, denotando a ausência de pressão e tensão em seu grip e, consequentemente, nos músculos dos braços e ombros. Esse é outro ponto importante: o relaxamento geral. “Um bom grip, suave e relaxado, passará essa informação para o resto do seu corpo; sem tensão, seu swing poderá fluir”, já dizia Bobby Jones.
Unidade das mãos
O terceiro aspecto fundamental do bom grip é a unidade das mãos. “Não importa qual dos três grips você usa – o tipo beisebol, o sobreposto ou o cruzado – , o importante é as mãos ficarem bem juntas. Juntas como se fossem uma coisa só”, aconselhou Harvey Penick em seu O Pequeno Livro Vermelho de Golfe. A explicação para essa necessidade é óbvia: as duas mãos devem trabalhar para o mesmo objetivo, que é deixar a face do taco square durante o impacto e fazer a bola voar rumo ao alvo. Se as mãos estiverem desconectadas, cada uma tenderá a descrever um trajeto diferente durante o swing, impossibilitando a circularidade correta do movimento do taco.
A força centrífuga
Essas três características capitais do bom grip – mãos trabalhando juntas, grip suave e flexibilidade nos pulsos – proporcionam maior controle e distância por permitirem que o taco desenvolva toda sua capacidade de força centrífuga, a qual é responsável pela velocidade na cabeça do taco. Noutras palavras, o taco de golfe é projetado para desenvolver sua maior velocidade na hora em que a vara está num ângulo próximo dos 90 graus com relação ao chão; ou seja, justamente na hora do impacto na bola. “Se o grip é tenso demais, você estará atrapalhando o desenvolvimento de todo o potencial de velocidade do taco que você tem nas mãos. Rigidez nunca combinou com o swing de golfe”, ensina Greg Norman. Essa associação de mãos sem tensão e força centrífuga possibilita a execução do proverbial “chicote”, que é a “explosão” da cabeça do taco na bola, gerando velocidade e potência sem perda de ritmo e timing (ritmo – ou tempo – é a variação de velocidade durante o back e o downswing; e timing é a coordenação correta das partes do corpo durante o swing).
Mudança de grip
Se há algo que se iguala à importância do grip no swing é a dificuldade de corrigir um grip errado. “Se o aluno chega a mim após ter jogado anos e anos sem ter realizado qualquer melhoria em seu jogo, tudo o que posso fazer é colocar suas mãos no taco com um bom grip. E depois da aula eu não vou vê-lo nunca mais, pois ele vai bater na bola tão mal que pensará ser eu o professor mais burro do país”, escreveu o bem-humorado Penick, ciente que transformar um mau grip num bom grip exige, na maioria das vezes, muito mais esforço, paciência e treino do que o aluno está disposto a empreender: “No entanto, se o aluno se dispuser a treinar as modificações, o resultado pode ser quase miraculoso. O grip correto transforma o golfista num jogador muito melhor”.
Um instrumento musical
A mudança também é difícil por que os golfistas em geral consideram o grip a parte mais desinteressante do swing. “Não há glamour nele. E, por isso, eles não vêem nada de decisivo no grip. Por outro lado, para mim – e para outros golfistas sérios – há uma inegável beleza no modo como os jogadores mais refinados colocam suas mãos no taco. O grip de Walter Hagen, por exemplo, é ao mesmo tempo delicado e poderoso”, escreveu Ben Hogan em seu Five Lessons.
A potência advinda da delicadeza… Penick tinha uma imagem bonita para resumir essa aparente contradição. Ele dizia que o taco de golfe é para ser segurado como se fosse um instrumento musical. “Segure o taco levemente, muito levemente”. Naturalmente, há sempre exceções. Arnold Palmer, por exemplo, sempre gostou de segurar o taco com pressão máxima, e, mesmo assim, foi um dos maiores jogadores de todos os tempos. Mas, como dizia Penick aos seus alunos: “Você não é Arnold Palmer”.
Para Saber Mais
– Five Lessons, de Ben Hogan – Nesse livro há uma capítulo inteiro dedicado ao grip utilizado por um dos melhores golfistas da história.
– O Pequeno Livro Vermelho de Golfe, de Harvey Penick – Em dois capítulos curtos (“O Grip” e “Segurar o Taco”), o lendário instrutor texano explica a importância da pegada suave.
– No link http://www.webdejuanfrancisco.com/golf/video-elswing.htm há uma aula completa de Nick Faldo (com David Leadbetter) sobre como empunhar corretamente o taco.
O colunista é escritor, golfista e editor da revista Golf Life.
O ponto de vista dos colunistas não expressa necessariamente a opinião da CBG