Confederação Brasileira de Golfe

A arte do putting

19 de fevereiro de 2008

Há duas escolas diferentes e centenas de modelos no mercado, mas existe apenas uma maneira de dominar seus putts: encontrar seu equilíbrio pessoal entre razão e sensibilidade

“Há coisa maior ou menor do que um toque?” Com essa pergunta dúbia, o poeta norte-americano Walt Whitman falou do contato humano. Porém, a frase também serve para falar das agruras e prazeres que envolvem o stroke de putter. Mas, pensando bem, nem precisa ir até as altas esferas literárias para dizer isso, pois os pros também dizem que “um bom toque é tudo”, o que não deixa de ter seu grão de poesia. “Bom toque” é quando a batida na bola é de veludo, fazendo-a rolar, inexoravelmente, para o fundo do buraco. Todo golfista persegue essa sensibilidade que, irritantemente, surge num momento para desaparecer no outro. “Isso acontece porque a pressão no green é muito grande. O jogador sabe que embocar aquele putt é primordial, e termina por tencionar os músculos e anular qualquer possibilidade de fazer um movimento natural e fluente”, afirma o instrutor Todd Sones, da escola Impact Golf, em Vernon Hills, Illinois.

A suavidade das mãos

O conselho geral, mundial e irrestrito é de que a solução para um stroke eficiente (stroke é como se chama o swing de putter) é relaxamento. Sem tensões nas mãos ou ombros, a face do taco chegará square na hora do impacto, sem perder a sensibilidade. “Mãos suaves e corretamente colocadas em volta do grip são os primeiros requisitos para desenvolver uma boa técnica. Putting não é potência, é ritmo e tranqüilidade”, ensina o guru do jogo curto Dave Pelz, autor dos clássicos Short Game Bible e Putting Bible. “Realmente, pressão excessiva no grip acaba com qualquer stroke. Aconselho aos amadores o mesmo que aconselhei a Tiger Woods quando trabalhamos juntos: numa escala de pressão de 1 a 10, pressione o taco no máximo até 5. Será mais do que suficiente para manter o taco alinhado e ter a distância que se quer”, explica Butch Harmon, instrutor que dispensa maiores apresentações.

Mil e um tipos de putter

No entanto, quanto mais suave a pegada, mais o taco precisa ser bem balanceado para não “entortar” durante o stroke. O mercado oferece uma infinidade de modelos para todos os gostos e técnicas, indo das tradicionais lâminas modelo “anser”, tornadas mundialmente famosas pela Ping, passando pelos modelos mallets com suas cabeças enormes e futuristas, e terminando nos famigerados “vassourões” com suas varas enormes. Todos eles, claro, prometem maravilhas. Por exemplo, o Nike Unitized Techno promete “alto momento de inércia na batida com seu perímetro traseiro alongado”; o Taylor Made Rossa Monza diz que “a moldura triangular e pesos ajustáveis ajudam a melhorar a estabilidade”, etc. Mas há quem diga, em todos os níveis de jogo, que o importante mesmo é se sentir bem com o putter que se tem. “O modelo que você usa é absolutamente irrelevante. O imporante é escolher um putter que se adapte bem às suas mãos e que lhe dê aquela imprescindível sensação de confiança só de olhar para ele”, afirma Tiger Woods, na melhor linha do antigo estilo “viu, e gamou”.

Quando o taco não tem culpa

Já Todd Jones, ele também um crítico da indústria de tacos e do incentivo ao consumismo desenfreado de novos equipamentos (embora também venda sua marca de putter na Internet como a solução para todos os problemas), não defende essa abordagem natural de Tiger. “O putter deve se ajustar às suas características, é preciso um fitting. Uma vez encontrado o putter ideal, é hora de fazer um casamento duradouro. Vejam grandes pateadores como Tiger e Ben Crenshaw. Eles estão com os mesmos putters desde que começaram”, diz Sones. Ele também tem uma explicação sensata para o fato de muitos jogadores bons não trocarem de putter: “Eles sabem que o problema maior não está na ferramenta, mas na necessidade de encontrar os fundamentos de postura e stroke. Encontrado isso, a pessoa baterá com confiança e discernimento”.

Os famigerados fundamentos

Mas eis que cada guru do golfe tem sua própria concepção do que são os famosos “fundamentos”. De qualquer modo, todos eles se repetem em alguns pontos. Por exemplo, é senso comum que o alinhamento dos olhos deve ser sobre a bola, pois permite uma visualização melhor da linha do alvo. Também não parece haver discussão sobre a necessidade de controlar a distância em que a bola irá com a regulagem da distância que o taco se afasta da bola, e não quebrando os pulsos para imprimir velocidade. Também é conselho dado em qualquer escola que o movimento adequado é pendular, por meio de ombros e braços formando um sólido (mas não tenso) triângulo, enquanto a parte de baixo do corpo permanece absolutamente parada. A cabeça imóvel durante o stroke é outra unanimidade.

Duas escolas de putting

No entanto, há divergências interessantes. Uma delas é sobre a trajetória do putter durante o stroke. A primeira escola diz que o putter deve permanecer square com a linha imaginária do alvo durante todo o percurso para frente e para trás. Essa técnica é ensinada por instrutores como Butch Harmon e Dave Pelz, e aplicada por campeões como Loren Roberts e Tiger Woods. Já a segunda escola diz que a face do putter, à medida em que se afasta da bola, deve abrir. Depois, quando volta para bater, novamente fica square com a linha do alvo; e depois de bater deve fechar um pouco. Isso cria um movimento de circularidade. “Defendo essa técnica porque ela é mais natural. Acredito que o stroke, na essência, não é diferente do full swing. Na verdade, ele é um mini-swing”, defende Stan Utley, autor do livro The Art of Putting. Nomes fortes como Jay Haas, Darren Clarke e Craig Stadler jogam dessa maneira.

Putter especial para a segunda escola

Acontece que a esmagadora maioria dos putters foi projetada para o movimento em linha reta, segundo os preceitos da primeira escola. Porém, como a sofisticação dos equipamentos de golfe é um poço sem fundo, surgiu no mercado um putter feito sob medida para o tipo de stroke advogado por Utley. É o Titleist Cameron Detour, um mallet com linhas arrojadas e com projeto para forçar o pateador a fazer o stroke circularmente. A cabeça tem dimensões diferentes nas duas pontas, e a longa inserção de metal atrás (como se fosse um pequeno “rabo”) não é reta, como se poderia esperar, mas levemente arqueada. É um casamento de design e inovação que o deixa admiravelmente equilibrado e propenso ao “stroke natural”. E notem onde está a beleza da sofisticação: quem tiver tempo e disposição, pode comprar o livro de Utley e o putter Detour Titleist; e, respaldado por duas grifes seríssimas do golfe, aprender uma teoria de putt e colocá-la em prática com uma ferramenta desenhada especialmente para essa técnica da circularidade. Ou, quem preferir a simplicidade pregada por Tiger Woods, basta encontrar um putter qualquer que o faça se sentir bem e finalmente parar de dar dinheiro para a indústria de tacos. 

Em busca do putter ideal

Na hora da compra, alguns procedimentos de fitting podem ajudar na escolha certa do “embocador”.

 Procure um putter que facilite o alinhamento. Se é preciso muito ajuste das mãos e corpo para o taco ficar square e transmitir confiança, não é o ideal.
 O comprimento da vara não tem apenas a ver com a altura do jogador (jogadores de alturas diferentes podem jogar com varas de tamanhos iguais). Largura de ombros, comprimento dos braços e inclinação da coluna também influenciam. Muitos putters saem de fábrica com 35 polegadas; mas, segundo especialistas e muitos campeões, modelos com 33 ou 33,5 oferecem mais controle e sensibilidade.
 Faça seu stance e deixe os braços confortavelmente pendidos, com os olhos alinhados sobre a bola. Agora ajeite seu grip e braços como se fosse bater. O comprimento ideal da vara é da base do putter até onde a ponta superior do taco coincide com a linha do pulso da mão superior.
 Nem todo putter permite que a vara seja cortada para o comprimento ideal para você. Uma vez que a vara seja reduzida ou aumentada, alterará o swingweight (balanço) do taco, que poderá ficar desbalanceado, causando uma nova sensação durante o stroke. O ideal é encontrar um putter que já venha de fábrica com as características que você precisa.
 Após fazer seu posicionamento habitual para bater, verifique se a ponta ou o calcanhar do putter não está muito levantada, pois isso indicará um lie inadequado. O ideal é o putter acentar equilibradamente, com a sola square no chão.

O colunista é escritor, golfista e editor da revista Golf Life.

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