Confederação Brasileira de Golfe

Um árbitro brasileiro no The Open

28 de julho de 2016

O oficial de regras Carlos Gasparian relata no texto abaixo a incrível experiência de ter trabalhado como árbitro no The Open, um dos maiores torneios de golfe do mundo. Na foto, Gasparian aparece à direita, com Mickelson, Westwood e Els, procurando a bola de Els que abriu e foi para o mato. A bola foi achada depois que Westwood pisou nela. Como não sabiam exatamente onde a bola estava antes de ser pisada, Els teve direito a drop sem penalidade)

“Árbitros de golfe estão em constante evolução. Se você é um árbitro, você provavelmente começou como eu, ajudando os colegas a entender as Regras no buraco 19, começando a atuar em Comissões de Árbitros e sentindo a necessidade de fazer um curso de Regras, sendo, então, fisgado por elas e desejando compreender a sua natureza e as suas Decisões.

A evolução continua. Você é chamado a participar de Comissões de Árbitros em outro clube, em outra cidade, em outro estado. Você já entende que não é infalível, que precisa continuar a se desenvolver, a se atualizar, aprendendo, compreendendo melhor as nuances das Regras e Decisões.

Você quer continuar a evoluir. As pessoas começam a se lembrar de seu nome ao precisar de um Árbitro, obtendo maior experiência e, por conseguinte, mais convites. Você começa a trabalhar nos principais torneios de seu país, que, no meu caso, inclui o Aberto do Brasil, o Pro Tour e o Web.Com.

Você identifica a necessidade de os jogadores conhecerem mais as Regras de Golfe e de se formarem mais Árbitros para trabalhar nos torneios. Você faz, então, o TARS (Formação de Administradores de Torneios e Árbitros) e dá aulas dos cursos R&A nível 1 e 2. Orgulha-se quando alunos que começaram estudando Regras com você passam “Com Distinção” no curso TARS no Rio de Janeiro.

E você quer continuar evoluindo…

Recebi, então, um convite para ser Árbitro (Rules Official) no The Open, não qualquer Aberto. É o THE OPEN! É uma grande honra, um grande prazer e uma enorme responsabilidade trabalhar como Árbitro em um “Major”, e o maior deles é o The Open!

Com mais de um mês de antecedência do aberto, fiquei surpreso com a atenção ao detalhe, com o cuidado, com o fluxo de comunicação e a receptividade. Compreendi, já nesse momento, que aprenderia muito e daria um grande passo no meu desenvolvimento como Árbitro.

Afinal das contas, estamos sempre buscando novas formas de nos tornarmos melhores Árbitros e de tornar o golfe um esporte consistente entre os vários países e as várias competições. Previsibilidade é uma boa palavra para entender o que você pode esperar de um Árbitro em qualquer lugar do mundo.

Parte da preparação do The Open inclui materiais de estudo, orientações e instruções, inclusive, informações sobre o hotel, onde e quando buscar e ajustar os uniformes de Árbitro, e como contatar o serviço de transporte de ida e volta ao aeroporto. Tudo está devidamente planejado. Preparação e organização são as palavras-chave, tendo 145 anos de tradição como base.

De repente, você estava lá, ao vivo. Tão pouco tempo e tanto a preparar e aprender! Nunca estive neste campo e tenho que caminhar para senti-lo.  Os jogadores já estão no campo e me distraio com seus swings e treino. Retorno ao trabalho da vez: caminhar, entender o campo e detectar possíveis áreas problemáticas, incluindo as torres de TV, as arquibancadas, as placas, etc.

No dia seguinte recebi uma grande ajuda. São dadas instruções sobre o campo, tais como: OFT’s (obstruções fixas temporárias), cabos, cerca de metal, arquibancadas, cordas, relógios, todos exibidos e seu alívio demonstrado, em formato de apresentação com vídeos de cada buraco para que não restem dúvidas. Quando você acredita que já entendeu tudo, você tem a oportunidade de fazer o reconhecimento do campo com outros profissionais e com um árbitro experiente, que conhece o campo, e é veterano no The Open. Perguntas, dúvidas, preocupações, todas são tratadas e resolvidas com facilidade: Como você trataria este pedaço de solo? Como você daria alívio neste caso? E se a bola mover? Volto para o hotel preparado e certo de que farei um bom trabalho no dia seguinte. O grande Dia.

À noite ainda recebo mais informações, condições meteorológicas, novos exemplos de como aplicar uma Regra, tarefas para os dias seguintes, horários de saída e os grupos.

Meu primeiro dia foi incrível. Observador no grupo de Mickelson, Westwood e Els. Um Observador é um Árbitro avançado que vê aonde a bola vai, se há algum problema que necessite a presença do Árbitro, ajuda a controlar a multidão ao redor da bola, para que os jogadores tenham um dia tranquilo de golfe, e para que os Árbitros tenham tempo de planejar suas Decisões antecipadamente. Por exemplo: “Bola está na OFT da torre de TV, alívio de qualquer lado”. Ajuda muito. Você acompanha seu grupo até que ele chegue ao green, assegura que não tenham interferências e vai para o próximo buraco esperar pelo drive. A desvantagem é que não dá para ver os putts do seu grupo e é obrigado a adivinhar os birdies dos jogadores pelos sons da plateia. Por outro lado, você também tem a oportunidade de ver as tacadas do grupo à frente, no meu caso o jogo do McDowell, Kuchar e Johnston. Nada a reclamar.

Mickelson fez uma primeira volta primorosa empatando o escore recorde de 63 para o The Open, só não conseguiu melhor o recorde porque sua bola rolou pelo beiço do buraco e, capciosamente, decidiu não cair no buraco. WOW.

O fluxo de informações continua e recebo relatórios meteorológicas e atualizações como um relatório sobre todas as Decisões do dia anterior.

Tive, então, a minha estreia como Árbitro do The Open.

Primeiramente no Escritório da Comissão, cortando e colando para que meu Livro de Jardas tivesse todas as informações sobre OFTs e alívios em cada buraco, aonde deveria me posicionar em cada tee e em cada green com a minha equipe (Marcador de escores, Carregador do estandarte de Resultados e Rastelador de bunkers). Após as devidas apresentações, discuti com a minha equipe a minha expectativa para o trabalho do dia.

Cheguei no primeiro tee e me apresentei aos jogadores (Oskar Arvidsson, Harold Varner III e Tyrell Hatton) e a seus respectivos caddies. Perguntei a estes últimos se eles haviam contado os tacos. O apresentador anunciou o primeiro jogador e começou o jogo.

A primeira bola foi diretamente para a área entre a cerca de metal e a arquibancada do 18, considerado como uma única OFT. Caminhei, olhando para o livro de jardas, para chegar ao local já com a Decisão correta. Lembrei-me de ser cordial e de demonstrar confiança. Decisão: utilizar área de drop mais perto da bola na OFT, separada por estacas azuis. O jogador dropa e a sua bola está em jogo.

Fiquei satisfeito com a Decisão e o jogador também. Segui e tive mais quatro Decisões durante a volta. Ao terminar, alívio. Agradeci aos jogadores e à equipe que me ajudou e aguardei do lado de fora da área de entrega de cartão por alguma pergunta. O trabalho foi concluído. Devolvi o rádio e fui ao escritório de Regras para apresentar e discutir meu relatório sobre as Decisões do dia e entreguei a folha de tempo de jogo.

No jantar com os demais Árbitros, discutimos os casos mais interessantes do dia e recebi a tarefa de sábado, juntamente com uma nova série de comunicados: meteorologia e uma advertência sobre possíveis ventos fortes que poderiam causar o movimento da bola, lembrando os procedimentos e Regras sobre movimento da bola.

Fui mais uma vez um observador, desta vez com Garcia e Johnston, com Kuchar e Na no grupo à frente. Ambos lindos jogos. A multidão estava ainda maior e um pouco mais difícil de controlar. Avisei ao Árbitro de quaisquer condições que poderiam exigir uma Decisão e tivemos um bom jogo.

Condições meteorológicas e um novo Aviso de Regras: A mudança da localização de um tee gerou mudanças nas OFTs no tee do 16.

No último dia fui, novamente, um Árbitro, acompanhando Harold Varner III com Richard Sterne. Nada entediante com 8 Decisões: OFT (torre de TV), bola injogável, bolas perdidas, interferência por cabos, bola movida, bola dentro ou fora do green. Apesar das várias Decisões o dia fluiu tranquilamente e terminamos o jogo 15 minutos antes do horário. Parabenizei os jogadores e agradeci à minha equipe. Devolvi o rádio e fui ao escritório de Regras entregar meu relatório de Decisões e o controle do tempo de jogo. Estava feliz pelo trabalho que considerei bem feito. Uma vida inteira de histórias e memórias para partilhar.

Tive uma experiência fantástica no The Open! Considero o meu trabalho como Árbitro no The Open como o coroamento do meu trabalho em Regras e recomendo esta experiência a quem tem sério interesse nas Regras de Golfe. Agradeço, sinceramente, ao Paulo Pacheco, presidente da CBG, e ao R&A por esta oportunidade de trabalhar no The Open. ”

Carlos Gasparian

42b Troon 145th Open Championship - Day One 145th Open Championship - Day Three

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