No meio do caminho havia uma banca
Quem assistiu à transmissão do 92º PGA Championship, o último major da temporada, certamente se lembrará mais da confusão envolvendo Dustin Johnson e as duas tacadas de penalidade que o tiraram do playoff do que da vitória de Martin Kaymer.
Um resumo para quem perdeu: Johnson poderia fazer até um bogey no buraco 18 para assegurar sua ida ao playoff – um par lhe daria a vitória. Seu drive, porém, foi para a direita e pousou no meio de uma multidão. Sua bola estava sobre um trecho de areia pisoteada. Apesar do lie ingrato, ele conseguiu colocar a bola próxima do green. Errou o putter para par, mas garantiu sua ida ao playoff ao marcar o bogey.
Pelo menos é o que todos achavam, até Johnson ser alertado pelos oficiais de regras de que havia cometido uma infração. Sua bola – aquela que pousou no meio da multidão – estava na verdade numa banca de areia. E Johnson encostou o taco na areia, infração conhecida por todos os golfistas e que é punida com duas tacadas de penalidade.
Johnson conhecia a regra. O que ele não sabia é que sua bola estava numa banca de areia. Foi induzido ao erro pela presença do público, que estava pisoteando a banca.
Na hora a reação natural do espectador – ainda mais aquele que não joga golfe – é achar que a punição a Johnson foi uma injustiça. Definitivamente não foi.
Nas regras locais, distribuídas a todos os jogadores e ignorada por Johnson, a comissão do torneio deixa claro que todas as áreas desenhadas e construídas como bancas de areia serão jogadas como tal, “tenham ou não tenham sido rasteladas”. “Isso significa que algumas bancas posicionadas fora das cordas, assim como algumas áreas de bancas dentro das cordas, perto da linha das cordas, podem incluir pegadas, marcas de rodas e rastros de pneus durante o jogo do Championship. Tais irregularidades na superfície são parte do jogo e não haverá alívio sem penalidade dessas condições.”
A intenção das regras de golfe é uma só, pegando emprestado uma definição que ouvi de Richard Conolly, presidente do São Fernando Golf Club: tornar possível a comparação dos resultados ao final do torneio, ao fazer com que todos joguem sob as mesmas normas.
Johnson errou sim ao encostar o taco na areia. Como profissional de golfe tarimbado que é, devia ter chamado o oficial de regras para perguntar se poderia ou não encostar o taco – em torneios como esse, nada mais normal do que pedir o auxílio de um juiz.
Se há alguma reclamação a ser feita, deveria ser endereçada à organização do torneio, que permitiu que o público ficasse em áreas de jogo, possibilitando que confusões como a que envolveu Johnson acontecessem. A questão é que a regra previa essa eventualidade e, até onde se sabe, nenhum jogador questionou essas condições.
Fica a lição: leia sempre atentamente as regras locais do campo onde for jogar. E se você cair na areia e estiver em dúvida, chame um árbitro ou bata como se estivesse num hazard. Ainda mais se estiver no buraco 18 de um major com milhões de dólares em jogo.
* O colunista edita a revista GOLFE+ e o www.blogolfe.com.br e dirige a Albatroz Comunicação, agência de notícias e de comunicação especializada em golfe.
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