Buracos na memória
O golfe e o poder é sempre uma mistura explosiva, que rende pano para a manga e assunto para os jornalistas. Em minha coluna anterior, comentei sobre um escândalo envolvendo o ex-ministro da Defesa do Japão (leia aqui) e relembrei o caso envolvendo um primeiro-ministro da Coréia do Sul. Agora a bolinha da vez é o presidente dos EUA, George W. Bush.
Em entrevista ao site americano Politico, Bush foi questionado sobre os motivos que o levaram a parar de jogar golfe nos últimos anos. Veja a resposta de Bush:
“Eu não quero aque alguma mãe cujo filho recentemente tenha morrido [no Iraque] veja seu comandante maior jogando golfe. Sinto que devo isso a essas famílias, para ser tão solidário quanto eu puder. E acho que jogar golfe durante uma guerra manda um recado errado”, disse o presidente.
O problema todo veio quando o repórter perguntou se havia algum momento particular ou incidente que levou Bush a tomar tão decisão. Vamos à resposta presidencial:
“Eu lembro que quando de Melo [o brasileiro Sérgio Vieira de Melo, enviado da ONU ao Iraque], que estava na ONU, foi morto em Bagdá como resultado desses assassinos tirando a vida de um homem bom, eu estava jogando golfe, acho que no centro do Texas, quando fui tirado às pressas do jogo. Eu disse, não vale mais a pena jogar”.
Bush perdeu uma ótima oportunidade de ficar calado. Vieira de Melo foi morto em 19 de agosto de 2003. Dois dias depois da morte do brasileiro, o presidente americano jogou golfe mais uma vez, de acordo com o colunista Al Kamen, do Washington Post. E jogou novamente no dia 28 de setembro e mais uma vez em 13 de outubro daquele mesmo ano.
Aliás, é de Al Kamen o título que peguei emprestado para essa coluna, Buracos na memória…
O colunista é jornalista há 13 anos e golfista há 7. Edita o www.blogolfe.com.br e dirige a Albatroz Comunicação, agência de notícias e de comunicação especializada em golfe.
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