Confederação Brasileira de Golfe

Fernando Pinto De Moura

27 de maio de 2003

Há quase 20 anos Fernando Pinto de Moura, Diretor Geral do Banco Alfa, investe no golfe brasileiro. Incluiu o esporte nos projetos de marketing das empresas onde trabalhou, conquistou espaço importante no segmento e, de excelente jogador de vôlei de praia no Rio de Janeiro, passou a respeitado golfista handicap 15, há anos residindo em São Paulo. Nesta entrevista ele fala dos projetos e de alguns segredos de sua vida esportiva e pessoal e descreve, eufórico, como fez o primeiro hole-in-one de Comandatuba. Poucos sabem que ele é um baterista de primeira e até já gravou um disco.

Onde o sr. nasceu, morou e estudou?
Nasci no Rio de Janeiro, em Copacabana. Sou formado em Economia pela Universidade do RJ, com Pós-Graduação na Fundação Getúlio Vargas (RJ) com Extensão em Nova York. Como meu pai era militar, fomos morar nos EUA, em Washington, durante dois anos e em algumas outras cidades do Brasil. Lá joguei basquete e beisebol, os esportes americanos da época, e por isso jogava mal futebol, mas gosto. Torço pelo Vasco da Gama.

Por que optou por investir no golfe?
O golfe é o esporte que mais se adequa ao tipo de cliente das instituições financeiras. É um segmento forte e bastante interessante.

Quais os principais patrocínios do Alfa?
Estamos num momento de seleção na forma de usar recursos. No início do Alfa, fizemos diversos eventos para marcar presença no esporte. Hoje fazemos um trabalho mais selecionado, investindo não na quantidade, mas na qualidade do que estamos fazendo, sem perder o foco principal, que é “por que estamos patrocinando o golfe?”.
Este ano o Banco Alfa pretende patrocinar mais uma vez o Campeonato Amador Brasileiro. É um investimento importante e, além de ser interessante para o Banco, ajuda o desenvolvimento do jogador amador brasileiro. Patrocinamos alguns estaduais e eventos de clubes, mantendo a marca em evidência o ano inteiro. Nosso interesse pelo golfe é grande, mas há outras empresas que investem no esporte e nosso orçamento tem limites, daí ser importante selecionar bem.

Que ações de Marketing reputa interessantes no golfe?
Além dos torneios, a realização de Pro-Ams, um golfe entre amigos com os quais nos identificamos. É gratificante convidá-los para um evento que antecede um torneio profissional, ou num final de tarde de sexta-feira. É uma atividade que cada vez mais estamos fazendo. Ela é bem objetiva e tem ótima qualidade seletiva. Temos apoiado a CBG em projetos que sejam também interessantes para a nossa Organização.

Como é a comunicação e o patrocínio do produto golfe?
Desenvolvemos atividades de marketing direto, enviando correspondência aos clientes que jogam ou têm interesse pelo golfe e levamos a eles as informações que a gente tem e obtém. Incluímos como política de comunicação, sempre que possível, a possibilidade de conversar com jornais e estar na mídia.

Qual o interesse do Banco Alfa em apoiar o projeto – cadastro da CBG?
O golfe se ressente muito de informações exatas. Precisamos saber o número correto de golfistas e de campos no país, os estados que mais estão investindo, como é o comportamento do golfista, outros esportes que pratica e seus hobbies. Se tivermos essas informações poderemos ter um bom cadastro e nos comunicarmos com muito mais qualidade com o golfista, e saber o que e como dizer a ele. A comunicação com o jovem tem que ser diferente da comunicação para pessoas de mais idade. Há informações importantes para quem tem HCP baixo e para quem tem HCP alto. Se você fizer a mesma comunicação para os dois, vai se perder. Essas informações são também fundamentais para a CBG e Federações.
Para ter um cadastro completo, deveria ser obrigatório o preenchimento de uma ficha para todo jogador que participe de torneios.

Como analisa o golfe no Brasil?
São duas eras: pré e pós-Tiger Woods. Em 1980 você via Jack Nicklaus, Seve Ballesteros e outros, todos jovens e magrinhos. Dez anos depois estavam diferentes, apesar de estarem em uma idade muito boa para o golfe, mas fisicamente a imagem dos jogadores de sucesso já não era atraente. Tiger Woods fez sucesso sendo jovem e com físico de atleta. A sua origem afro-oriental ajudou mais ainda. Esses fatores foram fundamentais para chamar a atenção para o golfe. Tiger levou à explosão mundial do golfe no final de década de 90 e início de 2000. Mundialmente, acho que está chegando no topo da curva. No Brasil, o esporte ficou morno ou até frio durante muitos anos, porque havia poucos campos. Só recentemente com a ESPN nacional e internacional e outras emissoras que passaram a mostrar o golfe, as pessoas passaram a conhecer mais e investir no esporte, em resorts e driving ranges públicos. O que precisamos agora é de campos públicos de grande porte nas principais cidades do país para popularizar mais o esporte.

Você sente orgulho por ter ajudado o golfe?
Acho que sou o mais antigo patrocinador do golfe em atividade pois comecei na década de 80, e já naquela época prestigiei muito os torneios femininos, os Abertos de Clubes, profissionais e amadores, os torneios de caddies. São pessoas que nos ajudam muito, carregando as bolsas e orientando no jogo. Hoje muitos deles são profissionais, portanto, nada mais merecido do que dar apoio e oferecer uma oportunidade a essas pessoas que se dedicam muito a nós.
Comecei a investir através de um banco americano para a clientela Corporate. Achei que devia ser assim na época por ser um jogo de estrangeiros que trabalhavam em empresas estrangeiras. Patrocinar o golfe era se aproximar de presidentes de multinacionais. Eu não jogava. Até que em 1988, em Porto Alegre, patrocinava um torneio e o presidente do clube perguntou por que eu não jogava e brincou que eu estava lá “só para tirar o dinheiro deles”. Prometi a ele que no próximo torneio estaria jogando. Comecei a treinar no Rio de Janeiro e, no ano seguinte, 1989, com HCP 40, participei do torneio. Fiquei em último lugar, mas cumpri a promessa e me apaixonei pelo esporte. A partir daí tive ainda melhores resultados como patrocinador. Até ali eu era um peixe fora dágua. Conversava com os jogadores, mas não tinha o ponto comum, que era jogar golfe.

Quais os campos que mais gosta?
Os campos em geral são bons. O campo que não me agrada é aquele que inventa dificuldade. Um na Flórida, por exemplo, tem um pântano na sua frente. Existe só um pedacinho da fairway. O golfe já é difícil, acaba deixando de dar prazer. Para jogar naquele campo é necessário ter a precisão de um cirurgião plástico. Já joguei na Suíça, na França, onde há dificuldades por causa da topografia dos países, mas são muito agradáveis. No Brasil gosto muito do São Fernando, considerado o melhor campo de clube do país, e há alguns particulares que são um primor. Gosto muito de Comandatuba, um dos melhores da América do Sul, não só pelo campo mas também pelo visual.

O que mais lhe agrada no golfe?
São vários aspectos. O relacionamento que você faz, independente de negócios. Você conhece pessoas de diversos níveis, sem o que não teria essa oportunidade. O relacionamento é fundamental e primeiro coloco as amizades, os negócios vêm em seguida. Outra conquista: baixar o HCP. E o famoso hole-in-one. Fiz o primeiro e único em Comandatuba, na primeira Copa Rey de Espanha da qual participei. Foi no buraco 2, com 160 jardas. Vi a bola cair no green, mas estava numa posição onde não via a bandeira direito. Aí as pessoas começaram a dizer: foi hole- in-one!!. Foi legal porque era um torneio na modalidade shot gun onde todos terminam juntos. Foi uma festa. Com isso foi a sorteio um Mercedes Classe A, que não saiu para mim. Não dei sorte duas vezes nesse dia…

Qual a maior alegria para um golfista?
Ver a bola voar longe é ótimo, mas salvar uma jogada deixa a gente muito feliz, é uma arte.

Como vê o golfe como esporte?
Andando de carrinho, é jogo; caminhando é esporte! Pode ser solitário e monótono ou muito agradável e emocionante. Se você entra num torneio pensando só em ganhar e ficar muito quieto, vai ser um solitário no campo. Há jogadores que falam muito e atrapalham a gente, outros falam pouco. Eu tento falar o necessário para não perder a concentração. Enquanto ando vou pensando na próxima jogada.

Qual é seu sonho?
Jogar sempre bem, baixar o HCP, chegar a zero! Como patrocinador, anos atrás pensei em trazer o Telly Savallas, Sean Connery, Clint Eastwood. Seria uma promoção interessante para fazer uma badalação e mostrar que o golfe pode ser para todos. Na época não fiz por falta de verba. Mas é um projeto que acho viável, com a união de outros patrocinadores. A renda poderíamos doar para uma instituição de caridade.

Foi difícil aprender o golfe?
O maior drama foi ser golfista no Rio, quando desde moleque eu era do vôlei de praia. Jogava seis sete duplas, seguidas, aos sábados e domingos. Tinha um nível muito bom. Na época em que comecei, era diretor do Chase do setor Varejo. Um dia o diretor do setor Corporate me disse que ia mudar para São Paulo. Eu disse: Boa viagem. Não tinha sentido morar em SP, sem praia. Não saio do Rio nem a porrete, pensava. Quando decidi jogar golfe, conforme prometera ao presidente do Porto Alegre, passei a ter aulas com o Rafael Gonzalez e tive que escolher entre o golfe e o vôlei. Mas nos fins de semana eu ia para o vôlei. O vôlei me ajudou muito porque eu tinha ótimo condicionamento físico para andar pelo campo de golfe. No início, batia a bola, esperava a turma se distanciar e aí saia correndo até onde estava a minha bola pois o desgaste no golfe era pequeno comparado com o do vôlei.

Quais seus hobbies?
Sou baterista. E Scratch. Participei de alguns conjuntos na minha juventude. Toquei no Beco das Garrafas, no Rio. Por lá passaram Dolores Duran, Jorge Ben, Sergio Mendes, na época eles faziam jam sessions, encontros de jazz, onde todos tinham a oportunidade de se apresentar. Mas precisava paciência. Eu chegava e ficava na fila dos bateristas, esperando a minha vez. Tinha gente muito boa como Edson Machado, Do Um Romão e outros. Quem tocava piston, por exemplo, pegava o seu e ia lá dar sua “canja”. Mas bateria só tinha uma e a gente ficava na fila. Pianistas tinha uns dois ou três, que também se revezavam. Eu tinha 20 anos e cheguei a tocar num grupo de ótima qualidade, com Vitor Assis Brasil no sax, Claudio Roditi no piston – ele mora nos EUA há quase 30 anos e excursiona muito pela Europa -, Sergio Barroso no baixo, Aloisio no piano e eu na bateria. Aí veio a época do tchá-tchá-tchá, começaram as discotecas, e a música ao vivo perdeu espaço. Havia alguns casas noturnas como o Plaza, o Bottles e outras do circuito da música de jazz e bossa que a gente fazia. Com a perda de espaço para a discoteca, a Faculdade e com meu casamento, ficou mais complicado tocar profissionalmente. Fiquei muitos anos tocando sozinho, acompanhando discos, para não perder o vínculo com a música. De vez em quando o Cláudio Roditi vinha ao Brasil, pegava uns amigos, ia lá prá casa e a gente fazia um som.
Mas em 1997, numa terça-feira, entrei no Bourbon, uma casa noturna em Moema e vi um pianista tocando jazz de excelente qualidade, usando uma pedaleira para fazer o acompanhamento de baixo, como no órgão. Era o Hildebrando Brasil, um dos melhores do país. Ao lado, vaziazinha, sem ninguém, tinha uma bateria. Encostei e perguntei? Posso? A resposta me animou: Senta, disse ele. Eu achei que estava abafando, mas ele disse que eu estava muito ruim. Mas fizemos amizade e passei a ir lá, uma terça-feira sim, outra não. Logo estava indo todas as terças, dias em que ele estava sozinho. Nos demos tão bem que em fevereiro de 1999 gravamos um disco, A Tribute to Bill Evans, uma homenagem à lenda do piano de jazz americano. Levamos o disco à Eldorado que aprovou, fez a capa e o lançamento. Tivemos a alegria de incluir uma crítica do maestro Julio Medaglia com muitos elogios ao disco. Recentemente, tocamos no All of Jazz na rua João Cachoeira e vamos fazer toda primeira quinta feira do mês a partir de julho próximo.

Como aprendeu a tocar bateria?
Comecei tocando piano, aos 10 anos, mas parei. Quando surgiu a bandinha do colégio comecei na bateria tocando tarol. Toquei nas bandinhas locais onde morei mas sempre gostei muito de Jazz. Tudo que sei aprendi de ouvido. No Rio, na década de 60, tinha um programa de jazz na Rádio Jornal do Brasil. Eu ouvia direto. Comprei uma vassourinha e ficava tocando em cima de capa de disco ou das revistas Manchete ou Cruzeiro e aos 18 anos comprei minha primeira bateria. Até hoje sou muito bom de vassourinha. Posso dizer que sou handicap 2 na vassourinha e 9 na baqueta.

Por que colocou o nome Fernando Batera no disco?
Porque já havia um Fernando Moura baterista que mora em NY.

Onde está a sua bateria?
Bem, tenho três. Uma num apartamento onde moro aqui na cidade, outra na casa no São Fernando. A outra é uma Premier, pequena, que fica desmontada e eu levo nos lugares onde vou tocar. Tem um som maravilhoso e é fácil de transportar.

Entrevista: Ivo Simon

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